segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Em busca de um lar inglês...

Após um longo período de ausência, em busca de algo que me despertasse os nervos de forma suficientemente alarmante que merecesse ser publicado num blog, finalmente alcancei o meu momento de inspiração...
Para quem não sabe, aqui a je teve a grande ideia de fazer um programa de doutoramento misto, que me permite passar alguns meses em Portugal, e outros tantos em Inglaterra, Cambridge para ser mais precisa. E hoje vou falar-vos de uma grande experiência, que decerto os meus colegas Joana e André já tiveram, que é a procura de quarto/casa nesse grande país chamado Inglaterra. Claro que para mim com a agravante de procurar casa à distância, com a querida colega Jo a ver as casas por mim.
A minha saga começou há cerca de uma semana, quando achei que um mês de antecedência era um prazo razoável para começar a mandar e-mails e contactar anúncios de casas e quartos. Contactei mais de 50 (sem estar a exagerar) de uns 200 possíveis anúncios. Desses 50, depois de desculpas tão boas como "queremos ocupar o quarto o mais depressa possível", até "estamos à procura de um homem para ocupar o quarto", depois de descartar condições abomináveis como casas de banho em anexos separados (tinha que passar pela rua em pleno inverno para ir mandar um fax), casas sem cozinha e quartos sem janelas, consegui reduzir a minha busca a 6. Os 6 grandes! Os favoritos! A nata da nata dos anúncios de quartos! Condições magníficas a preços razoáveis! "Isto não pode falhar" - pensei eu, destes 6 diamantes da imobiliária inglesa tinha que haver algo que se adequasse a mim. Pois pensei mal... Após ter feito todos os preparativos para que a minha grande amiga Jo pudesse ir ver os 6 maravilhosos ao vivo e a cores numa tarde de domingo, mapa traçado, contactos feitos, pôs-se a Joana no pouca-terra a caminho de Cambridge. (Esqueci-me dizer que, claro está, a Joana estava a representar o papel de minha irmã, pois para os ingleses uma amiga ver um quarto por nós é muito estranho, visto que eles não entendem muito bem o conceito de amizade, mas isso fica para outro post.) Mas continuando a história, a Jo chega a Cambridge (e a partir daqui conto a história como a ouvi mais tarde pela boca da própria Jo), dirige-se para o primeiro quarto, maravilha das maravilhas, o quarto e a casa encaixam-se nos elevadíssimos padrões de qualidade esperados, casa com grandes janelas, luz por todo o lado, é mesmo um lar, pertencente a um casal de lésbicas artistas, mas ainda assim, tudo o que se esperaria de um lar. Está vista a primeira casa, altura em que a Jo me liga em pânico porque não consegue dizer que é minha irmã porque temos a mesma idade (ao que eu expliquei que era só mudar a idade dela, ninguém ia entrar em promenores, duh!). A caminho da segunda casa, chega lá e o efeito tcharan já não é tão grande. Ok, é um lugarzinho simpático, mas já não é bem um lar....é mais um conjunto de paredes com alguns seres humanos lá dentro. Rumo à terceira casa. Esta era uma das favoritas. "Double room with ensuite shower" dizia o anúncio, "brand new flat", uau! A renda é um pouco cara, £540 por mês, mas deve ser espectacular! Pois, segundo a Jo, o double room com ensuite shower não passava de uma cama com um chuveiro e um ralo ao lado. E é aqui que a minha irritação começa. Mas esta gente nasceu em que planeta? Quem é que se lembra de anunciar "double room with ensuite shower" para uma cama com um chuveiro ao lado? Eu não conheço NINGUÉM que tenha crescido a tomar banho ao lado da cama, assim sem parede nem nada. Nem neste século nem no século XVII (até porque no século XVII não se tomava banho, e mesmo assim era melhor que tomar banho ao lado da cama). Isto mostra as condições degradantes em que vivem algumas pessoas em Inglaterra, há barracas em Portugal com melhores condições, e Portugal é um país até bastante atrasado, comparado com Inglaterra. Só faltava ter que meter uma moedinha para se poder tomar banho! (e sim, tal coisa existe em Inglaterra, e eu conheço alguém que teve que passar por isso). Enfim, nesta altura a Jo mete-se num táxi para ir para a quarta casa. É nesta altura que algo de muito estranho se passou, envolvendo um telemóvel perdido no banco de trás de um táxi, um telefonema de um taxista confuso para um número aleatório do telemóvel da Jo, a resposta em português de um amigo da Jo para um taxista ainda mais confuso ao ouvir uma voz estrangeira, a Jo a viajar para casa de um taxista em busca de um telemóvel perdido, e uma casa não vista por falta de tempo devido ao incidente do táxi. De qualquer maneira vim mais tarde a verificar que a casa que ficou por ver era uma que eu já tinha visto da última vez que tinha estado em Cambridge (em Fevereiro de 2009) e que era o sítio mais badalhoco e desarrumado que eu já tinha visto, e que pelos vistos continua para alugar, quase 1 ano mais tarde. Lá segue a Jo para a quinta casa, mas a coisa não melhora. O local era uma pocilga, não era possível eu um dia viver lá, nem sequer sobreviver, estava fora de questão, considerou (e bem) a minha amiga Joana.
Finalmente a última casa! Esta era a favoritíssima! Já eu tinha trocado diversos e-mails com a senhora da casa, feito uma extensa descrição da minha pessoa, trocado pedidos de amizade no facebook e até havia um gato, o Frankie! Pela descrição não podia haver melhor lar que este, estava perto do perfeito. Ora chega a Jo, toca à campainha, a senhora abre e anuncia que o quarto já tinha sido ocupado pelo namorado da outra residente, há cerca de uma hora. Nem telefonema a avisar-me, nem um pedido de desculpas. É assim mesmo que se fazem as coisas, compromete-se com uma pessoa para ver a casa, era quase uma formalidade, a decisão estava praticamente tomada de que era aquela casa que eu queria, e depois pimbas. Uma rasteira destas e nem sequer um "ai, desculpa aí hã...". E isto é outra das coisas que me irrita. A frieza desta gente, eu nem sequer tenho palavras para descrever como me irritou esta atitude, como foi cruel e como arruinou todo o meu dia saber que não ia poder ter a casa que me parecia perfeita.
Parece-me então que estou resumida ao casal de homossexuais, e mesmo assim estou à espera de resposta até quarta-feira, porque elas estão a entrevistar mais pessoas, e com a sorte com que estou vão-me dizer que não e eu vou ficar desalojada. Mas enfim, acho que depois de tudo isto prefiro ficar desalojada a ter que viver numa espécie de toca badalhoca e abandalhada, com sabe-se lá quantos bifes frios, insensíveis e pouco asseados, que cagam numa barraca atrás de uma árvore no quintal e usam os trocos da semana para tomar banho ao domingo (no quarto onde dormem).

Senhorios ingleses com casas de fracas condições não me irritem!!!

6 comentários:

Catarina disse...

Uau! Bem a experiência em Copenhaga também não é nada agradável mas aqui a maioria das pessoas até é simpática :)
O ano passado mudei várias vezes de casa e custa a encontrar uma boa relação quarto/preço. Uma amiga minha cá desde Agosto já a visitei em 3 casas diferentes e em Fevereiro vai ser outra...

Well, what can I say. Good Luck! Se pudesse dava uma juda mas err daqui nada feito. Depois quando lá chegares, os anúncios que dizem ocupar o quarto o mais rápido possível são todos teus.

Kys og Knus.

David R. S. G. Sobral disse...

Tirando um certo "bias" burgues" e exagerado :P parece-me uma boa descricao da realidade (e Cambridge e' uma cidade com barbas, nao se pode esperar apartamentos ultra-modernos), ate' porque ainda so por uma vez te aconteceu chegares (ou a Jo chegar...) a' casa e ter acabado de ser alugada. Quando vim para edimburgo isso aconteceu mais de 10 vezes, e nao so imediatamente antes de ver - pior e' depois de veres algo que gostas e ligares logo 10 minutos depois saberes que 1 minuto antes a pessoa que viu a seguir de ti ja' pagou o deposito. E por aqui tens de ver pelo menos umas 20 a 30 quartos/casas antes de teres qualquer hipotese (porque ha milhares de estudantes todos 'a procura do mesmo!).

Mas quanto ao "Double room with ensuite shower", nunca uma expressao foi tao literal e tao adequada, os cambridgianos sao uns verdadeiros realistas.

D.Aninhas disse...

Penso que querer uma casa com a casa de banho dentro da própria casa ou uma parede a separar o duche da cama não será propriamente a definição de burguês....mas sim, got your point. A busca continua, a esperança é a última a morrer, pode ser que consiga ficar na casa boa das senhoras muito amigas, senão ainda tenho que procurar outra e não me apetece.

Catarina disse...

Olha lá, essa parte da Joana ser tua irmã tem direitos de autor! :P

Anónimo disse...

Bem D. Aninhas tá difícil... mas e a casa onde tiveste, não é opção porque?

Quanto ao táxi posso explicar por ter sido "o amigo" lol mandei uma mensagem a Jo e "ela" respondeu com um tok, coisa que as vezes acontece quando quer que lhe ligue. Até aqui tudo bem, o problema foi que assim que atenderam eu me sai com um super carinhoso e com voz melosa "Olá goooooooda!" mal sabia eu que a "goda" era um senhor taxista de meia idade chamado Joe que do outro lado só me perguntava se eu sabia de quem era o telefone. Ainda pensei que fosse o Pierre, mas não, era mesmo o Joe. Posso dizer que foi muito simpático e atencioso, mas não se livrou a levar com uns carinhos meus em português logo quando nos conhecemos.. tu arriscas-te a ficar com as lésbicas, mas eu já andei aos carinhos com o taxista! Tamos em grande Ana!

D.Aninhas disse...

AHAHAHAHAHAHA, Zé, essa foi a melhor! 'Olá goooodaaaa'! O que vale é que o senhor não percebia português, senão podia assustar-se, LOL. Mas sim, estamos mesmo em grande, eu com um casal de fufinhas e tu aos melos com o taxista....lindo!